domingo, 17 de junho de 2012

Catarse, eu te amo.

Era por volta de 6 horas da manhã. Frio, um frio bem aceitável, mas frio. O sol tentava sair por detrás da persiana, mas nem o pano, nem os prédios, nem o dia deixavam ele se aventurar na sala, por hora. Sim, a sala, o lugar mais movimentado casa, que depois das 2am vira o cemitério da família. Nossos destinos atravessam aquela sala todo dia, mesmo assim não prestamos atenção nela. A sala. Adoro dormir naquele sofá velho. Ele me faz mal pras costas, me deixa todo torto e acordo com dores, mas não importa(até porque nunca me importei com dor... eu vivo com dor), ele está lá testemunhando cada coisa importante que fiz na vida. Dá primeira contusão que senti as consequências encima dele,a ultima briga que me tranquilizei nele, ao segundo, terceiro, quarto amor que amei nele até o mais recente dos exercícios de domingo que fiz com ele. E era nele, que o frio subia das pernas descobertas até a blusa velha, que eu adoro e visto constantemente nesse tipo de clima ameno. Meu fone não funcionava direito nem com reza, e isso me irritava(ainda me irrita). Quando finalmente pegou, tocava Yellow. Ah esse Coldplay sempre foi protagonista dos meus melhores calafrios. E esse com certeza foi um deles. "it's true, look how they shine for you" e vento gelado.  Foi de longe o melhor silêncio barulhento da minha vida.

Não só por causa de uma banalidade dessa. A carga de respostas , perguntas, frases ensaiadas e atitudes tinha acabado de ficar pronta. E eu não sabia o que pensar. Angústia, para o tempo passar logo talvez, vergonha, medo, burrice, definitivamente burrice, MAS, contudo, entretanto, todavia, doravante, eu também me senti em paz. Me senti pronto. Sabe lá Zeus como, estive lá naquele sofá com o frio mais acolhedor. como se caísse nos braços da Lady morte e dançasse pela noite... Morte, o que eu mais queria afastar. Queria proteger tudo dela. Mas naquele frio eu entendi que não consigo. só posso me doar no lugar de alguém, e isso não ajudaria em muita coisa. Mas aprendi também que não vai ser tão fácil assim ela chegar e dominar tudo. Eu luto, bato, grito, soco, apanho, mas não desisto até ver meu último respingo de suor chegar ao chão do ringue.
Pior do que qualquer coisa, aprendi também que não posso parar a dança da morte de outras pessoas. Mas, posso oferecer uma dança melhor.Talvez seja esse o grande segredo. Eu sou horrível em dançar, mas, a música será boa pelo menos!
Ah não sabem o quanto eu sinto pela dor alheia. Antigamente, quando ainda era católico ou qualquer coisa por aí, gostava de criar contratos comigo mesmo, de que, pelo amor de qualquer coisa que exista, toda a dor de específicas pessoas fossem transferidas pra mim, para que elas pudessem viver sem problemas. Que infantilidade,mas mesmo assim, fazia. Me flagelava, na maior imbecilidade de todas que era sangrar os punhos. A dor era paliativa. A angústia durava semanas. Eu só socava qualquer coisa até meus dedos estourarem. As desculpas que eu contava eram das piores... Mesmo assim, socava paredes exaustivamente e ninguém parecia se importar.
É muito difícil eu falar disso. Mesmo, tenho medo de ser indelicado e acabar ofendendo alguém. Mas  vamos lá. Eu acho isso covardia. Fugir dos problemas da maneira "mais difícil'. Te digo que a dor é a maneira mais fácil. O caminho do certo é o mais difícil. Por isso é o certo. Querer roubar a dor dos outros também é imbecil. Nunca isso foi capaz nem será. Nós podemos acabar com a dor dos outros, dividi-la, preveni-la. Demorei um pouco mais entendi.
E agora a pouco já tinha me esquecido disso, e quando vi sinais da dor nela, NOSSA como me desesperei. Perdi o foco, esqueci tempo, espaço, gente, bicho, eu, esqueci tudo, só queria achar o motivo daquilo, cavar com cal o que quer que fosse, apagar, extinguir e ser o salvador da pátria.
Não não não seu imbecil de novo, nada disso. Eu tenho que ser eu mesmo, eu tenho que resolver o que eu posso e eu tenho que envolver no que me deixarem! Ok ok, eu posso ser muita coisa, eu sei que posso resolver MUITA COISA e eu sei que tenho uma certa liberdade, mas, mesmo assim, falta dizer algumas palavras pra sacramentar. Eu preciso dizer o que nenhum livro de romance barato já disse. O que nenhum poeta, escritor, homem, mulher, ser vivo ou morto-vivo já pensou. Eu preciso usar minhas palavras manjadas, meu vocabulário de carioca paulista recifense, preciso passar a segurança que eu tenho, o poder que eu exerço e a força que eu gasto com bolas ovais, campos de areia e quadras de handebol.
A noite acabou, onde o dia começou e o sol raiou. O fim daquela catarse veio da melhor maneira possível, com outro calafrio. Strawberry Swing, o fim de qualquer ótimo começo.
"Now the sky could be blue I don't mind
Without you it's a waste of time"

Sem vídeo, a música de hoje vai ser você que vai colocar.





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